O meu testemunho
Tenho 45 anos de idade dos quais 30 vividos em intensa actividade política e cívica. Fui filiado, dirigente local, distrital e nacional de um partido político, que há anos abandonei por diferendo ideológico e por desencanto com as lógicas políticas prevalecentes num enquadramento partidário.
Tenho uma boa formação académica e profissionalmente fiz parte da minha carreira na banca, carreira que há doze anos suspendi para exercer funções de Vereador numa autarquia da área metropolitana do Porto, cargo que acumulo, por inerência e nomeação, com várias outras actividades.
Ideologicamente defino-me, há muitos anos e de forma consistente, como um Humanista Cristão (este “cristão” deve ser apenas entendido cultural e filosoficamente e não na sua vertente religiosa, já que embora crente num Deus sou absolutamente arreligioso). Humanista porque para mim o “Homem” é a medida de todas as coisas e é no “Homem” e nas suas potencialidades que eu tenho fé.
Considero que vivemos no regime mais adequado – a Democracia – mas com um sistema político anacrónico. Um sistema político que foi útil no pós-25 de Abril, caracterizado por um “para-parlamentarismo” – e não semi-presidencialismo na minha opinião – de base político-partidária, que fez dos partidos políticos a únicas plataformas viáveis de intervenção política, modelo que eu considero já ultrapassado e que não é capaz de corresponder com qualidade às expectativas dos cidadãos e que, por outro lado, transformou as principais instituições do Estado em entidades dramaticamente degradadas. Hoje os cidadãos, de forma geral, não reconhecem utilidade social à maior parte das instituições do Estado porque elas funcionam mal ou nem sequer funcionam: parlamento, tribunais, institutos e organismos públicos estão, perigosamente, desacreditadas junto daqueles que lhes conferem legitimidade de existência que são os cidadãos.
Nas últimas eleições presidenciais apoiei e votei em Manuel Alegre. Gostei da sua coragem e frontalidade, gostei da sua candidatura “fora do sistema”. Mas Manuel Alegre desiludiu-me. Desiludiu-me porque passou os últimos anos a tentar ser sistematicamente “politicamente correcto”, sendo contra tudo e a favor de nada, chantageando de forma permanente o seu próprio partido e acabando hoje por ser o candidato querido do Bloco de Esquerda e o candidato oficial do PS - candidato quase inevitável mas muito pouco amado. Manuel Alegre empenhou a sua independência em favor um apoio partidário à sua candidatura, acabando por ser – mesmo que inconscientemente – um testemunho do pior que há no sistema.
Uma candidatura presidencial é – e deve ser – por natureza apartidária. Não significa que tenha que ser ideologicamente amorfa, mas que não seja produto de um qualquer partido político. Um presidente da República, no nosso actual ordenamento constitucional, é um árbitro do sistema, com alguns poderes objectivos de intervenção e com muitos poderes subjectivos de interacção. Como um árbitro de um sistema político que, em teoria, está ao serviço dos cidadãos, deve ser por definição um cidadão escolhido pelos seus pares e não um “output” partidário.
Deve ser um cidadão que perceba a sociedade a que pertence, que seja generoso e com provas dadas na intervenção cívica a vários níveis, que ame o País, que seja respeitado interna e externamente e que não tenha outros compromissos que não a sua própria vontade, o seu desejo de serviço e a sua visão do exercício das funções a que se candidata, dentro do quadro constitucional vigente.
O Doutor Fernando Nobre corresponde, na minha opinião, a todas essas características ou condições. Estou absolutamente convencido que, caso seja eleito, contribuirá muito para que Portugal avance substancialmente no aprofundamento da sua democracia, que precisa de muito mais e melhor intervenção cívica, que está política e moralmente obrigada a atenuar as assimetrias sociais e que exige que o “Conhecimento” seja efectivamente transformado em prioridade nacional. Sem “Conhecimento” não há responsabilidade e sem responsabilidade não pode haver Liberdade.
Mário Nuno Neves
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